quarta-feira, 24 de junho de 2009

Estória num canto de Alfama


Se um dia tivesse que descrever Lisboa, descreveria de certeza a zona de Alfama, Santa Apolónia até á Praça do Comércio। Nunca um lugar representou o seu papel de forma tão harmoniosa.

Recordar, ou pensar, os locais que nos dizem que a história ali pode ser o cruzamento das estórias seria, concerteza , a convicção de que a minha estória ali se cruzou e se fez graças a outras estórias que com a minha se completam. Se o conjunto faz uma estória, os protagonistas são mais que ela própria e ultrapassam a dimensão dos momentos e prolongam-se para além deles.
Na sequência espacial criou-se o lugar dos amantes, daqueles que amam, e querem ser amados, que se escondem algures nos cantos da vida, não por vergonha, mas por amarem e por isso serem castigados, estranha ironia!
Nunca os momentos fizeram mais sentido que naqueles pedaços tirados ao senso comum, àquilo que parecia ser o certo. Afinal o sentido estava nos sentidos que invocavam o desejo de fugir ao que era comum, não afogar o que estava iminente, fugir….fugir sempre em frente!
Para alem de nós, parece estar sempre o apelo a sermos nós, aquilo que queremos que seja não só o desígnio mas também a confirmação que existimos por uma, ou mais, qualquer razão, razão essa que em nada deve á mesma, mas sim àquilo que somos devotos, a emoção, o prazer de sentir que os sentires não nos reduzem mas nos aumentam perante nós e nos indicam que afinal existimos no compromisso sem compromisso e de apenas amar-mos sem exigências.
À distância ilusória, pois ela, distância, nunca existiu, as palavras não surgem ocas. Parece que o sentido no tempo as confirma, dando-lhes agora a ênfase da maturidade, o atestado que são sem tempo e com sentido naquilo que se quer que tenham, ou seja, a razão das emoções e a emoção da razão.
Se me disserem que não existi responderei que existi em muitos momentos e naqueles que, só por egoísmo cúmplice assumido, compartilhei apenas com uma só pessoa digo que fazem parte da minha existência porque deles não abdico, mesmo que nunca os compartilhe no testemunho duma existência, seria despedaçar parte do que sou se não os assumisse perante o meu ser.
Lembra-te que nunca esquecemos que existia a existência, aquela que ironicamente nos afastava e nos aproximava, fazia parte da estória que se completava nela. Afastava-nos por nos tirar a preciosidade do tempo que egoisticamente, e teimosamente, queríamos como só nosso, mas fazia-nos acordar para a realidade que o nosso tempo era o cruzamento de outros tempos cuja importância não se media mas sim urgia em completar esses tempos.
A história faz-se do passado, mas as estórias fazem-se sem tempo, que se cumpra a estória quando tiver que ser cumprida, que contemple o tempo e complemente a vida numa ode a quem quiser viver com o único desejo de nela participar.