quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O avesso

                                                        (foto da autoria de Liz)

Despojado de uma ideia de mim procuro-me, tento descobrir uma imagem reflectida de mim…para me encontrar,….naquele espelho ali, serei eu ?
Não me reconheço…quem é aquele cuja imagem nada me diz…nunca o vi…desgraçadamente nem ideia de mim tenho….já não sou aquele, ou qualquer outro.
Se fizer de conta que não me procuro, será que apareço?
Se me procurar atentamente, será que me vejo algures?
Nesta tentativa de um encontro comigo mesmo, encontrei um avesso do que sou.
Coloco as palavras na pilha, jogo com elas ….atiro-as para todos os lados.
Na busca de algum sentido as palavras voltam trazidas pelos ventos….fico cheio delas sem destino para lhes dar.
Não me encontro,
Tenho um avesso,
Um monte de palavras,
Estranho conjunto que carrego!
Começo a pensar que encontrei alguém… serei eu?
Será que estava aqui ao lado de mim…será que é o meu avesso?
Se virar do avesso este avesso, estarei lá?
Virado para o que dizem ser o lado certo…..assento-me bem!
Sim, mas se me virar do avesso, gosto do que sinto?
Toda a peça tem dois lados…
Afinal tinha um avesso, descoberto por acaso ou no acaso.
Sinto que me encontrei neste avesso……afinal ainda me reconheci… não passei por mim sem me falar, ou saudar.
Despido de mim, dispo o meu avesso…só há sentido na evocação do despir.
Despidos encontramo-nos mais facilmente…arte do não artefacto, exaltação do puro nos impuros.
Avesso fica aqui.... para não me sentir perdido.