sábado, 25 de dezembro de 2010

Asas por desejo

 



Fecharam-se as cortinas de um palco improvisado,
Ao longe a trapezista de Wender balouça…
Ouço o vento partir…
Chega uma angústia que não me cumprimenta,
Desejava ter asas…por desejo as asas…
 Ou então, bênção suprema, voar sem asas,
Sem me balançar num trapézio…
Sem ser anjo, fazer um voo rasante que passe junto ao humano…
Acto primoroso, na noite que não é longa… danço no corpo,
De uma bailarina carinhosa, que me aconchega…
Numa luminosa sala de néon, deita-me sobre o tapete rolante
Caio por entre plumas, sou mágico neste palco…
Puxa-me por caridade…sente-me por desejo,
Neste balançar perde-se o corpo por entre a alma generosa…
Já é dia nesta paragem, a noite sem ser longa já passou…
Vou agora á procura do destino que me calhou,
Entre rostos que se procuram, entre caretas e carantonhas,
Tento descobrir onde está o avental dos desprotegidos
Cai um homem á minha frente…por pressa caiu,
Por pressa é deixado no chão…
Ouço uma armadura rolar á minha frente,
O anjo criado por Wender atirou-me a salvação…
Será que volto á eternidade,
E me apaixono ainda por esta trapezista que se balouça,
Neste trapézio dourado e abordoado…
Agora com a armadura, tenho a consciência em mim
Sim gosto da trapezista, miro-a através da beleza dela…
Ouço os cânticos angelicais de tão esbelta figura…
Cheguei finalmente ao lugar dos desprotegidos,
Ao jardim do éden…
Agora sim, posso descansar em paz.


Nuvens





A lua rasga as nuvens,
Sem se exaurir olha-me impávida e serena…
De repente o brilho incide num espelho de água.
Acto mágico surge o reflexo que me encandeia…
Por entre o tempo que passa e aquele que não passa, esconde-se,
Ali sem tempo, permanece imóvel…
Removendo as nuvens, surge a espaços…
Escondida, exposta…absoluta na sua generosidade…
Domina todo o céu…as nuvens rasgadas pelo seu brilho,
Desfilam assustadas como se fugissem,
Das intempéries de Neptuno…
Tranquilo, miro-a por todo o seu esplendor,
Desejo fazer-me astronauta e nela encontrar um lugar…
Sem gravidade por lá ficar…sem receio que me afaste,
No seu colo acolher-me…
Sinto a lua a beijar-me o rosto com a sua luz,
Entre mim e a lua há um pacto,
Ela transmite-me a luz…eu acarinho-a…

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O INGÉNUO


Vindo de longe um homem aspira ao paraíso…

Pretensão maior de alma penada.

Na vida imposta, como o peso do condenado,

Sugam-lhe o tempo, vendem-lhe uma alma.

Ingénuo veste-se de gala,

Desagua o suor na terra…

Cruzado sem espada,

Defende o universo indefinido.

Crente… até o impossível dá como adquirido…

Caído em desgraça, caminha com todos os pecados,

Peso maior para tão pouco arcabouço.

Lambe o chão sujo de água e sangue,

Das mãos lavadas por Pilatos…

Pobre desgraçado, enganado e abandonado,

Encontrou o caminho do inferno…

Habeas Corpus


Sentindo que o cobertor cobria a pureza do acto


Era no acalorado bailado corporal que procuravas

A essência das essências …

A noite cobre o horizonte, ao longe e tão perto a lua,

Espreita envergonhada….

Na arriba, no mar …os passos dados até ali chegar…

Agora tudo está perto…até o teu corpo me cobre.

Nasce o sol por entre arribas, entram os raios por nós…

Exaltas a natureza humana…exultamos no recanto escolhido,

Por entre mantas, cobertores…nós…sempre nós,

Neste recanto escondido, desabam almofadas no emaranhado de peles,

Não escolhemos, desejámos apenas…os corpos.

Reféns de nós… tentamos a liberdade não desejada,

Habeas corpus…

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Beija o beijo!

Os lábios, aproximaram-se da face rubra...perguntaram, dança...a boca aproximou-se timidamente, no outro lado os lábios aveludados impregnados de vontade incontida dirigiram-se também eles á face .
Iniciou-se um bailado de beijos ao som das ondas que vinham de um mar mais agitado que o costume…no salão da face completavam-se beijos de bocas de veludo, numa dança de vontades, a pele ocupava um espaço por entre lábios…escorregam as faces agora num passo mais vigoroso…de tanto vigor na ternura se desfaz e se faz, por encanto, um bailado de afectos…premonição de algo maior entre bailados encontram-se as bocas…tudo se desmorona por entre emoções e sensações não convidadas para um baile, quase de gala, composto por ósculos que de ternura e afectos se fazem…transforma-se a sala das faces numa dança de beijos agora com as bocas coladas num dançar lento, infindável cuja música ecoa para além de qualquer som que se pudesse ouvir na cúmplice permanência
Sem tempo e em todo o espaço se cumpriu a dança…prossegue o andamento… na dúvida segue-se mais uma dança de beijos…agora mais soltas as faces , os lábios de veludo e cetim escorregam pela face…até sentir o corpo…agora os corpos transformados em face prolongada só param perante o êxtase do momento…após o sol, a lua… até á aurora continuou o bailado, dançamos…perguntou…sim, porque não , respondeu de forma doce com a ternura das faces.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Occasus




No crepúsculo, no lusco- fusco,
Na imensidão do ocaso…
O mar permanece impenetrável.
Submergia nas suas águas o sol que se punha…
Cobria-se de uma cor escura,
Brilhavam por entre as suas ondas raios de luz…
A lua invadia agora o espaço onde o sol tinha sido rei e senhor,
No eliciar anunciado, dava-se a transmutação…
O que parecia antagónico,
Era a mais perfeita das fusões…
Ciclo eterno de vida, representa a regeneração…
Aproxima-se a aurora, agora o espaço é do sol,
Completa-se o ciclo…
Nunca se desencontram,
Estão ambos sempre em harmonia…
Só o sol e lua se completam no acaso, no ocassus !

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“In Glória"

Passa-me o cinzeiro…disse uma voz rouca ecoando no ar, enquanto tossia convulsivamente.
Um dia destes essa merda mata-te, disse-lhe ele em tom grave.
Se não for isto há-de ser outra coisa…pensas que quero ficar cá para semente, disse-lhe ela em tom irónico.
Podias ao menos fazer um esforço para diminuir, passavas a ser uma melhor semente… ela começou a rir ás gargalhada.
Ele sentia-se miserável, barba por fazer, ar desleixado…havia uma semana que não saía de casa.
Carregava um peso de um mundo, o dele, aquele que mais pesa, aquele que ninguém ajuda a carregar… puta de vida, este só eu o posso carregar, pensava para com os botões dele!
Ela caída num maldito vai e vem, era o esboço que desvanecia do que tinha, pretensamente, sido alguém…no farrapo esgaçado que envergava, sonhava que despareceria mais depressa se apressa-se num esforço inglório a sua existência, que queria perene e sem qualquer registo…
Porque negas a vida, perguntava-lhe ele muitas vezes irritado…mais uma vez o fez, dizendo-lhe, não queres glória mas porque achas que a irias ter, ou que a merecerias… tu és a antítese da tua própria negação, tu queres existir mas tens medo e escondes essa vontade na maldita bebida e na merda do tabaco…tu não te destróis, tu consomes a própria vida como se ela fosse um vício que tens e que não consegues largar…olha para ti, que vês, a miséria…ou a ideia que descobriste algum caminho que te levará a alguma espécie de santuário onde terminará a tua missão, que tens como pesada…foda-se há gajos que levam uma vida inteira a levantar-se ás sete da manhã para ir trabalhar e um dia dizem-lhe estás despedido e metem uma corda ao pescoço ou atiram-se para baixo de um comboio…que pensas que tens de diferente deles, interrogou-a…que tens alguma missão e que eles foram os carneiros que nunca souberam o que era esta vida sensível e artística, disse-lhe em tom áspero…és igual, quando confrontada com uma vicissitude, não passas de mais um carneiro mas com uma função diferente, a de olhar a sociedade como um laboratório onde os outros são os pobres coitados e tu a coitada pobre, por ver mais além e que tal visão, de ampla, te cega…pois julgas que é muito o que vês, que é quase uma cegueira por invasão de saber, continuou ele em tom mais brusco…tens o síndroma de Pessoa, mas sabes, disse-lhe… falta-te o talento dele, ele lamentava-se mas fazia-o para o papel e para ele, de manhã ia trabalhar a voltava todos os dias á mesma vida, conheces-lhe algum milagre, interrogou…só o milagres da poesia e desse ele não tinha consciência de importante que era, se um dia a tivesse tido acredita que não seria tão bela e enigmática a poesia e a sua prosa…a consciência mata a genuidade, exclamou.
Ela lançou-se num pranto, ele olhou-… aproximou-se, abraçou-a e colocou-lhe a cabeça junto do seu ombro e disse-lhe, todos os dias o sol nasce, mesmo que tapado pelas nuvens ele está lá… achas isso uma lamechice não é, pois imagina que o sol se enjoava de tal… a vida não é fácil, mas nós não estamos cá para cumprir uma missão, nós passamos, talvez, para viver apenas, aprender e olhar o sol, o mar, a lua e todos os elementos que fazem a beleza e aqueles menos belos e que são a feiura dos locais por onde passamos, disse-lhe em tom calmo…a capacidade de observar e saber aproveitar o bom, o mau, o belo e o feio é que pode fazer de nós diferentes…ninguém sabe o segredo da vida, sabemos apenas que designaram chamar-lhe isso e que não é eterna, esfuma-se e um dia desaparecemos… não te desperdices… olha para mim… disse-lhe levantando-lhe o queixo com as pontas dos dedos… julgas que me tenho como algum messias, interrogou-a…sabes o que penso, continuou… nunca saberemos para que servimos, mas não será, com certeza, nessa busca que seremos felizes ou infelizes, isso é uma diversão para nos abstrairmos da verdade e para que um dia quando nos dermos conta que passámos por algum lado chamado vida, percebermos que havia lá tanta coisa para fazer e afinal estivemos distraídos a olhar para nada, para um lado que não tem saída…colocamo-nos no beco sem saída de forma voluntária, sai dele, sai por favor…tu és um ser belo, a vida és tu!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sentir palavras

Escorrem palavras por entre as linhas

Cataratas de palavras…jogo com palavras,

Cem, duzentas, trezentas, quantas palavras…

Encaixo o que posso por entre linhas.

No carreiro o trilho de palavras por percorrer…

Entre palavras ditas e não ditas, escritas e não escritas…

Palavras poesia…palavras prosa…palavras só palavra!

Leva-as o vento, leva-as o mar…leva-as quem quiser.

Só aquelas que agarro servem o intuito…

Pretensiosamente, pensei que as palavras se oferecem...

As palavras não são de ninguém, são de todos,

Mas posso entregá-las com embrulho dourado…

Quem as coloca no embrulho dá-lhes o sentido…

Se forem sentidas…já foram mais que palavras…

Ninguém as leva ficam com quem as recolhe

Mais que enviá-las é no receber que fazem sentir…

Que bom é sentir palavras!

sábado, 18 de setembro de 2010

Olhos que sorriem

No olhar o sorriso

Olhos que riem, choram, lembram, esquecem…

Dizem se si… de ti…de todos…imaginam corações.

Ousou a criança de olhos sorridentes,

Ir para além das dunas, não se perdeu num deserto,

Encontrou sim, um imenso oásis…

Vale sempre a pena caminhar em frente,

Após uma curva pode estar o encanto…

Se a tristeza dele não se apropriar.

Caminhando pelas dunas sem ilusões,

Descobriu que existe paixão em qualquer lugar,

Mas não em todos os tempos…

Olhos que se deixam envolver no clarear do dia,

Adormeceram na noite longa, vergados pelo peso da lua…

Mais que eles, foste tu quem conduziu aquele que não via,

Ao reino da paixão…agora de olhos sorridentes, chora a ausência dos olhos que lhe sorriam.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mendigo, mendiga…

Na ponta do cigarro o equilíbrio encontrado,

O morrão prepara a queda rumo ao chão

Dedos amarelos, dentes amarelados.

Noites mal dormidas…dias passados por passar.

Amores mal resolvidos…

Rua escuras que desembocam na estação do Metro vazia,
Sem hora de ponta…

Um mendigo prepara a vida que traz amarrotada,
Num saco de plástico…

História demasiada longa para se esvaziar num qualquer banco.

Depositado o saco, abre-se a vida possível..

Indiferentes e indiferente, todos passam, tudo se passa..
Uma vida que se cruza, na encruzilhada vivência.

Não existe tempo, apenas o espaço importa…

Não há passado ou futuro…existência em estado (im)puro?

Marcada na memória a subsistência possível,
A demência consentida…

Sem imposições ou posições o mendigo, mendiga,

Não quer dinheiro ou bens, quer vida…a vida dele… só!




domingo, 12 de setembro de 2010

Espuma de ondas

A espuma branca das ondas rasga o horizonte..
As gaivotas rodeiam os pescadores, cheira a peixe fresco...
Centenas, milhares, o som é ensurdecedor vão e vêem,
Cobrem o horizonte, invadem o areal…tornam-se paisagem deslumbrante.
O sol indiferente ao que se passa, segue o rumo do ocaso…
Na mesa uma chávena de café… um copo de água…
Todos os dias são bons, hoje não é diferente…
Rodeiam-se assuntos ao sol posto, tal como as gaivotas rodeiam os pescadores
Na falta de coragem , a espuma das ondas é o maior testemunho da força …
A água vai desaparecendo do copo, assim como o sol se esconde no horizonte
O branco da espuma das ondas prolonga o branco de um vestido…

Porque teimam os olhos em encontrar-se sem dizer nada…

Este mar que nos faz voltar sempre para o mirar,
testemunha que existe sempre um regresso...

Não numa Caravela que foi para além dele…mas no barco da vida

No equilíbrio do navegante á vela num rumo quase ao acaso!
Deixamos o mar para trás, amanhã voltamos e voltará a haver ondas!

sábado, 28 de agosto de 2010

Teima o teimoso

Flácido pensamento,

Que teima em ganhar consistência

Numa prosa oca , soa como o coco vazio

Fogem as palavras, até os pensamentos se demitem

Triste destino o de palavras que servem para lavar a alma,

Acto do Narciso que teima o teimoso…

Num reflexo textual invisível…

Nomenclatura sem ordem,

Exército atirado nas praias da desgraça...

As palavras do pensamento flácido,

Soam a nada…porque nada ecoa!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Deep Purple - Smoke On The Water (From "Live At Montreux 2006" DVD)


Apetece dizer que há fumo na água...mas só!

Ouçam a voz, recuem os quarentões e cinquentões aos anos 70, Gillan está igual…que se passou?
De Tóquio a Nova York levantavam-se exércitos de guedelhudos, hippies e toda a juventude que ouvia SMOKE ON THE WATER sonhava com um mundo melhor, Maio de 68 tinha dado o Mote, Paris estava ao rubro, fervilhava de cultura era o apogeu do séc. XX, a contra-cultura era a palavra de ordem…hoje estamos velhos? Usados? Desgastados? Vendidos?????....em que areia da praia morreu o sonho de paz e amor…o conservadorismo venceu-nos, caímos quase sem honra nem glória, desvirtuados, hoje parecemos…será que somos…o quê?

domingo, 15 de agosto de 2010

CLICHÉ A RETALHO

Por vezes ouvimos a expressão cliché ou, mais á Portuguesa, lugar comum.

Começa a ser moda acusar os outros disso, mas constato que com alguma razão.
Veja-se nas ditas redes sociais que estão cheias de clichés ou de lugares comuns e as pessoas, quase todas, não se coíbem de recorrer a eles para abrilhantarem a sua página.

Numa perspectiva mais distante ou equidistante, damos uma vista de olhos e veja-se títulos sugestivos como; a frase Nicola, Citador o seu karma, ou até frases atribuídas a Gandhi ou outra personalidade conhecidas, dizendo, fulano tal leu hoje a sua frase de fulano tal.

Onde estamos a chegar? Á sociedade dos retalhos, ou sociedade retalhada.

Muitas das frases fora do contexto em que foram ditas, pouco sentido fazem, mas parece que têm uma espécie de aura reveladora do tipo, quem anda á chuva molha-se! Bom esta frase que, enfim, de profundidade tem aquela que a chuva lhe der, pois é utilizada como metáfora, poderia ser dita de outra forma, por exemplo deste género, quem levar com uma bigorna no crânio parte a cabeça (isto se não morrer, possibilidade que é grande).

Naqueles rasgos atribuídos a escritores, pensadores ou personalidades mais ou menos VIP ( em português, vipes), encontramos excertos que são verdadeiras pérolas quando colocadas num contexto pouco usual.

Quantas pessoas entenderão a profundidade de uma frase que é utilizada como arma de arremesso á menor das contrariedades que o nosso saber tenha, "só sei que nada sei..". Será que faz sentido esta frase em qualquer contexto, retalho de um pensamento maior, compreenderão muitos daqueles que a dizem a sua verdadeira dimensão? Não, não compreendem...e porquê?

Porque esta cultura enlatada a retalho não lhes explica que uma frase daquelas vai para além do entendimento comum. Ou seja o fenómeno cliché é uma espécie de cultura vendida ao retalho...tal como se retalha uma peça de carne para se vender aos poucos, esta cultura do cliché, não é uma peça, é uma parte dela onde o todo só é alcançado por alguns.

Na senda do rumo para acesso ao saber por parte de todos, o que se fez foi desprimorar esse saber, atirando-o em pedaços a uma espécie de animais famintos que devoram todos os pedaços sem saber que existe um todo e do qual só comem uma pequena parte que lhes vai ilusoriamente criar a ideia de ficarem saciados…ou se calhar ficam, porque me preocupo com isso, possivelmente só sei que nada sei!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Leito de areia


Abeiram-se da água os meninos

O mar não fica quedo e banha-lhes os pés

Ficam radiantes olhando o areal…

A lua cheia pinta de prateado a água,

Todo um manto cobre resplandecente o mar.

O areal com mordomia estende-lhe um tapete

Caminham cruzando as mãos, os meninos…

De mão dada alheiam-se de distâncias.

Os riscos na areia desaparecem com a maré,

Desenham riscos na areia, imaginam riscos…

Diz o menino, sem riscos nada acontece…

A menina concorda, olha as estrelas…

Deslumbra perante a lua,

Imagina um mar para além do mar…

A areia convida a nela repousar,

Num leito improvisado, os meninos deitam-se…

No leito de areia miram a distância  do mar à lua,

Esquecem-se do tempo, são o ser…

No carinhoso colo, adormecem os meninos…

Embalados no leito de areia, entre o cruzamento das mãos

Os corpos regateiam o desejo, do mar da lua…!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Requiem…


Na escuridão baça de uma noite,

Um morto esqueceu-se do caminho...

Atirado para o inferno, recusa tal destino...

Vagueia por entre as almas…

Imemorial tentação a dos caminhos cruzados…

Prende-se á finura do gesto

Crença abalada na terra

A noiva leva o melhor vestido

Na altura do velório atirou as flores

Para os atalhos da incerteza

Agora morto, nega-se alma ao inferno

No inferno cabem todos os desencontrados

Caminha sobre as flores atiradas pela noiva

Até sentir o calor abrasador de um fogo

Descansa agora… para sempre?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Do cimo do Vulcão


Na ilha vulcânica

Memorial inventado pedra a pedra

No olhar da cegueira branca

Evangelizado até Caim

Caminhando por entre Elefantes

O escritor desceu de Lanzarote

Numa jangada de pedra

Envolto na urna

Caminhou por Lisboa

Agora terminou o homem, diria!

Agora fica a obra direi!

Até á eternidade Saramago…

domingo, 20 de junho de 2010

(A)mares


Na onda do oceano, escrita a palavra

Vagueia empurrada pelos ventos

Trás a esperança, a saudade na mensagem

Velas hasteadas a velha caravela ruma sem destino

Navegantes que anseiam por descobrir o (a)mar

Arrojam mais que a palavra

Arrojo no querer ir mais além

Por (a)mares nunca antes sentidos

No destino desconhecido o encontro

No encontro a razão do sentir

O (a)mar por descobrir

Descoberta a razão perdeu-se o sentido

Agora navegam para avistar um farol

A caravela regressa dos (a)mares nunca antes sentidos

Aporta a caravela, os homens regressam á vida

Numa imensa e negra noite olharam o (a)mar

Lá longe fica a ilha desconhecida

Prometem que voltarão aos (a)mares por descobrir…

sábado, 12 de junho de 2010

Mar sentido(s)


Caminhar com o mar por companhia, estende-se o areal…os pescadores lançam as redes

No horizonte o sol começa o rumo ao ocaso

As gaivotas cobrem o areal

Apetece-me gritar…gritar o nome…….

Pedir ao mar que me devolva as confissões que lhe fiz…..

Trazer-me as certezas que não tenho……..

Levantam voo as gaivotas…rodeiam-me …

Procuro o(s) sentido(s)…grito para o mar… as gaivotas levantam á minha passagem criando uma onda.

Olho o mar e as ondas chamam-me… dizem-me foi aqui que criaste a certeza, volta , vem fazer-me companhia… já o sol se escondeu no horizonte.

O céu vermelho esconde as lágrimas dos malditos…já não sou eu …sou o vagabundo daquilo que fui.

Um dia se voltar ……serei uma escassa memória num canto onde se escondem as coisas que não se confessam.

Sonho agora que os rios desaguam nos mares…procuro o(s) sentido(s)…..gritar o nome através dos bandos das gaivotas…..ninguém o vai ouvir a não ser tu, mas isso, porque te leva o som abafado da minha
alma….que só no mar faz sentido e na tua ecoa!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A dor das palavras

Hoje trazendo para ti as flores de um jardim que imaginámos

todo o jasmim me parece pouco...

As palavras doem-me, fazem o som do vento

naquele recanto de um mundo...

Compusestes as flores de forma harmoniosa

colocastes plantas, foste uma flor...

Imaginei-me principe, diante de ti como princesa

pintámos o mundo de todas cores,

nunca impusémos limites à imaginação...

Na imensidão do jardim imaginado nos perdemos

encontravámo-nos por entre flores e plantas,

só as palavras me doem agora

não as imagino sem ti...

Na penumbra das noites mais longas

percebi o quanto fazia frio...

De andar torpe, calcorreio os caminhos percorridos

por entre pedras e sons de asfalto,

percorro as veredas da vida

agora sem rumo , colocado ao acaso,

sinto a dor das palavras que não te digo...

sábado, 22 de maio de 2010

Afecto...afectus...



No silêncio de uma qualquer espera, reinvento-me na palavra que busca o sentido dos afectos..mais que a troca dos mesmos , existe o dever de os sentir.

No sorriso que abraça senti o calor que não se esfuma por entre os braços...apertados os corpos faziam a demora do apartar...doce sensação esta da descoberta dum abstracto sentido...parábolas trocadas, metáforas invocadas tudo servia para agarrar o tempo.

Menina sonhadora, repara como corre lirica a palavra que amadurece na descoberta do sentido...sonha, continua a sonhar para lá do horizonte do mar, não haverá infinito, surgirá uma espera do continuado caminho...

Menino do capricho descoberto por entre um mimo, fugido de um pequeno afecto...deleitou-se perante a
oferenda..suspiros incontidos... deitada a cabeça na sensibilidade ostensiva por tão generosa..

Como tudo se compõe..instrumentos inventados, orquestras que tocam para o abismo...generosos os músicos mostram-se inacansáveis, não amanhece..a aurora tarda...o ocaso permanece para além do tempo...o sol está quente,nos olhos escondidos as crianças sonhadoras trocam olhares imaginados...na essência de cada um existe uma verdade, a verdade que não e deles, existe aquela construída no caminho que se pretende percorrer...

Será que é possivél amar o infinito, infinitamente, pergunta a criança lirica...na genuidade da pergunta percorreram-se quase todos os caminhos...a encruzilhada trouxe uma nova era...aquela que permite ir sem sair do mesmo local, sem escolha...instintivamente sentindo os afectos partilhados!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Poeta daltónico


                                                     

Mascarada a vida de poema
Surgem os fantasmas abismados
Nos defuntos os carinhos
Pintamos as cores dos campos
Caímos junto á entrada do paraíso
Lá dentro vai longa a festa
No limbo amanhece sem luz
Na cor vivida doem as almas…penadas pelo tempo
Sem um horizonte para perder
Pedidos de perdão…sem perdão por vista
Porque no limbo amanhece sem luz
Fuga para os campos…sem fim… sem vista
As cores misturam-se…surge o poeta daltónico
Mascara a vida de poema
Cai á espera da mão que não o agarra
Esforço desperdiçado…implora o carinho dos defuntos
Já esqueceu que no limbo amanhece sempre sem luz
Agora já não é tarde…
Ontem desperdiçou a poesia
Atirou cores ao ar…acordou cego de cor
Esfregou os olhos com flores
E fechou a cortina do limbo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Homem devaneio



Lançado no burlesco...

Surgiu o homem devaneio...

Aqui e agora fazemos a epopeia...

Lançamos os corpos ao sexo...

Tu e eu compramos um bilhete...

No espaço vazio, esquecemos a roupa...

Fez-se prazenteiro o lugar de espera...

Na pressa do nada, surge o tudo...

Lá fora aguarda a luz do dia...

Aquela luz que não se deixa ver...

Vem viver no espaço burlesco...

Naquele dia esperado...

Imagina o corpo sentido...

Devaneia na plateia do teatro...

Nas cadeiras lado a lado nunca nos encontramos...

Empinamos o espaço para nos cair em cima...

É tão imenso o querer...

Baixa a cortina no burlesco...

Já fomos tanto neste espaço inventado...

E na espera fomos encontrados...

Pelo homem devaneio...

Que para o espaço burlesco foi atirado.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Tradição adiada

                                                           ( Foto da autoria de Liz)

Levantou o bombo, preparado para tocar olhou a multidão

Servo da música, nela se entende

Mais que tocar, o ritual expande o seu ser…

Ouve os rufos alheios…

Naquela estonteante música… força os braços

Som viril…o bombo impõe-se…

O homem do bombo esconde-se…

Imenso o bombo, protege…

A marcha inicia-se a banda toca

Rufa bombo…rufa

O homem do bombo veio hoje pela tradição

Na festa anunciada…o lugar é do bombo

Nada pesa mais que o bombo

Só o homem escondido atrás do bombo…sabe

Finda a festa…pousa o bombo

Ao longe o som da música saída dos altifalantes

Abafado agora o som do bombo

O homem afasta-se…carrega o bombo

Quando a tradição deixar de estar adiada, volta!

domingo, 11 de abril de 2010

Sábado (h)á noite...

A necessidade de extravasar as nossas tormentas faz de nós uma espécie de mutantes, não daqueles dos filmes de ficção, mas talvez numa aproximação mais tipo camaleão, tentamos sempre disfarçar-nos de acordo com a aquilo que apetece extravasar.
Esta perspectiva de abordagem da minha parte a um qualquer tema começa a dar sintomas de cansaço.
Começo com uma conclusão, da qual quem está a ler desconhece o porquê e para mim é como colocar-me num comboio que não parou vai mais á frente, mas eu fiquei numa paragem atrás e entrei num outro onde o tempo não passou.
Partindo da conclusão que nos adaptamos para extravasar as nossas tormentas, vamos ao que me fez, ou faz, chegar a tal afirmação.
Possivelmente aqui há uns anos, muitos mesmo, a um sábado á noite teria febre, seria aquela febre de sábado á noite que servia para a dita extravasão. Há menos anos, não sei quantos, não teria febre mas não estava em casa ao sábado á noite , por várias razões, que hoje já não me recordo, era um dia quase sagrado, destinava-se a um ritual que fiz durante algum tempo, ía beber uns copos e .....enfim era o sábado sagrado onde extravasa em "oração" , digamos assim!
Há (este verbo haver persegue-nos sempre) menos anos, reservava ( subtileza nos termos) para mim e para quem me acompanhava, os sábados para um jantar e um cinema, era um ritual, a noite de cinema.
Os acontecimentos recuaram, até onde ouve utilidade dos mesmos para enquadrar o tempo ou tempos. Agora vou passar ao presente.
Hoje é sábado, que faço agora aos sábados á noite? Não tenho febre, rituais ou oração sagrada! Mas não desapareci, logo deve haver tormentas. Então é assim, fico preocupado que os meus filhos estão com a febre de sábado á noite.
Eu, em casa, preocupado… a que horas irão voltar? Não bebas...recomendo ,tem cuidado com o carro...não te preocupes não chego tarde e não vou beber dizem-me.
Onde ouvi já isto? Será que estou a olhar dos bastidores para uma encenação de uma peça que já fui actor...puta de vida, é bastarda mas não se repete, pois eu não estou a viver nada de repetido, não estou a viver a vida dos meus filhos, estou a olhar para mim e a pensar, mas tu já foste aquele, o outro e mais o outro...agora estás aqui com o rabo (versão light de cú) sentado a olhar para o PC e a pensar, onde me apetece ir...e se for...e porque não vou?
Acabo por aqui, lamento não ter trazido nada de novo, nem para mim, mas apeteceu-me extravasar esta aflição que tinha no meu interior, fazia-me espécie este pensamento, de me ver aqui a olhar para o monitor, porra é sábado...que faço aqui?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Lugar precisa-se...



Lugar precisa-se…para albergar e entender… receber esta sensação…

Esta angústia de uma descoberta que não se reencontra…

Precisa-se de lugar…lugar tempo, lugar espaço…precisa-se!

Precisa-se de um lugar para assentar…assentar esta espécie de solidão…sem estar só!

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Escriba

         Não sou de fazer balanços de vida, não gosto, nunca gostei. Para mim a vida é um processo dinâmico feito na própria vida, nas vivências que tenho, daqueles que comigo a partilham e comigo remam diariamente este barco que se assemelha, ou se pode traduzir, numa imagem de uma viagem, num espaço cujo tamanho não se vê, mas está lá, temos disso a intuição, como diria o outro manifesta-se, não é explicável. Alguém escreveu que, com ele” caminham todos os mortos da minha vida ”, comigo não…nunca caminhei com os mortos, sempre caminhei com os vivos, e mesmo aqueles que ficaram no caminho, o qual não retrocede, caminham ao meu lado, mas vivos!
         Só guardo memórias vivas, não gosto de memórias que não são palpáveis ou que apenas nos servem para fazer crer que a vida é uma espécie de fardo. Dizem os entendidos que elas estão lá, mas fazemos uma espécie de negação, assustam-nos dizem! Não creio que seja o meu caso, pois elas estarão arrumadas algures. Não as nego, apenas exalto as vivas, num processo cujo esforço é neutro, ou seja, apenas penso e surge o que me parece ser a vida! Bom mas se faço negação não sei, quem é especialista deve ter disso uma ideia mais assertiva, mas concerteza não tem a minha ideia intuitiva, essa meus amigos é pessoal, subjectiva, minha!
         Andava a pensar no que poderia ainda fazer, o que já fiz…e não consigo compactar nada…nem uma espécie de come depressa (fastfood á americana)…nada me surge. Escrever sobre o quê? Sobre quem?        
         Existem sempre razões para escrevermos sobre alguma coisa ou sobre alguém, ou até nós próprios…mas para tal precisamos de imaginação objectiva, ou então romanceamos algo e aí parece pretensiosismo pensar que posso escrever como um escritor…costumo apelidar-me de escriba, aquele que escreve.
      Lembro-me de ainda criança ler e escrever cartas para a minha avó e para uma vizinha dela que infelizmente, nos tempos idos, não frequentaram a escola - tinham qualquer uma um imenso desgosto por tal - que por motivos políticos no nosso País era vulgar, País este que acordou tarde para a necessidade da instrução, ainda hoje cambaleia, não entende o real valor da mesma…encosta-se ao espertalhão e pensa que assim vai longe…pela amostra parece que de longe só fomos há cinco séculos atrás…e parámos por ali, ou, pelo menos, acabaram-se as exaltações dos feitos!
       Quando lia a correspondência da minha avó ou escrevia uma carta a pedido dela, ainda me lembro como começava o primeiro parágrafo “Como vais…espero que esta carta te vá encontrar bem, e como acabava “nós por cá vamos todos bem..” . De facto o tempo que decorria, por vezes, da altura em que a carta era escrita até chegar ao destinatário era o suficiente para se passarem muitas coisas que poderiam alterar todo aquele estado de coisas, “o estar bem”, pois decorriam vários dias, não havia o registo a carta era simples, sujeita a depósitos, a passar por vários locais e ainda dependente da boa vontade de quem a entregava, se calhasse a passar por lá nesse dia ficava, se não…ficava quando calhasse.
        Receber uma carta era uma alegria indescritível, hoje para as gerações dos sms e mails será algo de incompreensível, o poder de um envelope fechado, onde vinha a mensagem que se desconhecia totalmente o conteúdo, até podiam ser más noticias (hoje diz-se que ás más noticias chegam mais depressa, naquele tempo, quer fossem boas ou más, demoravam o mesmo)…. mas ler e reler, guardar as cartas…este ritual era soberbo.
      Era um mundo a um ritmo diferente…por vezes apetece-me voltar atrás no tempo…só para ter tempo!

sábado, 13 de março de 2010

Vazio




Todos nós em qualquer momento precisamos de um momento para olhar para nada, para o vazio, preencher algo…um daqueles momentos em que nos apetece estar sós…falar com os nosso botões…se calhar não só!
Vem isto a propósito da necessidade que tive hoje de ter um momento vazio, confesso que não sei bem porque tem este título, ou designação…apeteceu-me, por ser sugestivo e corresponder a um estado…o meu vazio!

Então pedi aos meus amigos que me perdoassem por hoje não os acompanhar no treino da corrida matinal, mas queria um encontro comigo…só comigo!

Quero aqui enunciar que não é nenhuma desconsideração pelos meus amigos, pelo contrário, no espaço da amizade cabe até o momento de querer-mos estar sós.

Comecei então o meu treino…ideias que me assolavam a cabeça em catadupa…mas nada se fixa…nada permanece, penso em tudo…o corpo vai no seu esforço contínuo como aliado a carregar tudo, até os pensamentos!

Mas este aparente vazio faz com que esteja a fazer uma limpeza ao meu cérebro, para ver se nalgum daqueles armários mais recônditos existe algo comprimido que precisa de se libertar…penso que é isto que os psicólogos fazem, possivelmente estava eu no meu momento de catarse…

Repentinamente veio-me algo á tona…pensei no meu pai…faria, se fosse vivo, 74 anos no dia 21 de Março. O meu pai faleceu com 51 anos de idade, ficou sem um terço da vida que lhe era devida…se tivesse cá ficado!

Eu perdi-o, até agora, por metade da minha vida…ou seja, vivi com um pai metade da minha vida… a outra metade, ou o resto, não sabe o que é ter pai.

Por vezes julgamo-nos imunes a este tipo de pensamentos…mas há sempre uma necessidade de expiação…quando dou por mim entendo que não estou só…o meu pai acompanha-me…falamos os dois, digo-lhe que ele gostaria de conhecer o meu filho mais novo…pois nasceu já após a morte dele…falo-lhe dos meus pequenos triunfos pessoais, aqueles que o orgulhariam…tento perceber se ele me diz algo sobre as angústias que por vezes tenho…a existência pai, como é… que me dizes, é tudo relativo…estás feliz…interrogo-o…ele sorri.

Tenho a certeza que não sendo o melhor filho do mundo, o meu pai sentir-se-ia orgulhoso de mim, os pais sentem-se quase sempre orgulhosos dos filhos…disse-me muitas vezes, tu não fazes porque não queres…o que queria eu pai, seria aquilo que tu querias?

Quando dei por mim o treino embora não fosse longo, tinha passado sem que desse por isso…no meu Mp4 ouvia-se o Peter Gabriel numa bela canção cujo título é “ Mercy Street, um poema de Anne Sexton´s”

No final da música o poema diz algo como isto:

“Misericórdia…procurando a rua da misericórdia...

Eu estou com o pai, ele está no barco...

Escrevendo na água...

Escrevendo nas ondas…do mar!”

A mim fica-me o sentimento de que o meu pai partiu de madrugada…era cedo, muito cedo!

terça-feira, 2 de março de 2010

Valsa sensual

Na noite longa e escura…

Esquecidos do tempo…

Enrolados no enxoval dos seduzidos…

Corpos transpirados escorrem pelos lençóis…

Entrelaçados e possessos os sentidos…

No sexo a lucidez ardente…

Pelo amor…encontrada a justificação…

O cheiro…apelo incontido dos corpos

Contorce, acaricia …deixa cair a tua face

Valsa sensual…acto de possuir…

Queda-te, permanece corpo…

Dentro de ti me completo…

Em ti saboreio o fel sedutor…

Preciso do corpo…não me leves os sentidos

Deita-te a meu lado…completo-te…

Deixa-me permanecer em ti…

Permanece em mim…

Dança…dança a valsa sensual !

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Caneta



Quando escorrego os dedos pelo papel ou arranho o papel com a caneta, tenho uma forma mais escorreita de escrever. Encontro ali a velocidade do meu pensar. No teclado do PC , julgando-me lesto, comecei a notar que por vezes fazia pausas que me retiravam ao momento….o meu pensamento precisava de ser amarrado para não me fugir, circunstancialmente estava mais á frente que a minha escrita. Só que de tanto andar á frente por vezes foge-me e depois já não o agarro. Com a caneta, utensílio que tinha abandonado, voltei a conciliar-me com o meu pensamento…agora paralelamente reproduzimos esta espécie de ideais, coisas que me vão na cabeça por assim dizer.
Tenho nos últimos dois anos feito um percurso inverso ao que fazia há 20 ou 30 anos, agora não leio muito, apetece-me escrever…dizer coisas, por mais absurdas que pereçam, escrevo-as. Depois releio-as passado um tempo, não na altura, na altura limito-me a dar uma passagem de olhos só para rectificar erros e corrigi-los, casos os encontre, pois a leitura é feita na diagonal, e quando os releio gosto do que escrevi, já me cheguei a interrogar, mas fui eu que escrevi isto, e como escrevi isto.
Para a mim a escrita é uma espécie de terapia, esvazio a alma na altura, digo o que me vai na cabeça…no pensamento, não faço introspecção, embora possa ser um acto introspectivo. É um acto espontâneo, nascido de uma espécie de impulso incontido manifestado como um tique onde o movimento está fora do controle da minha vontade. Tenho colocado coisas em Word (novas tecnologias dão nisto) hoje em dia que muitas vezes não fazia ideia da sua consistência ou inconsistência, são os meus espíritos, não fantasmas, esses, não precisei que os levassem, nunca quiseram nada comigo, resolvi os problemas na quinta dimensão e ninguém me acompanha…tem medo de mim, dizem-me muitas vezes, tu assustas…mas assustas mesmo!
Tudo isto deve ter um fim, esta verborreia, comecei com a caneta e dou por mim agora a falar de fantasmas…bom que destino terá este texto, o lixo orgânico?
Ou ficará pelo meu lixo espiritual?
Tudo é simples, as palavras é que complicam, mas se bem usadas são uma melodia para o cérebro, afinal o que queria dizer era somente que voltei á caneta, que se compatibiliza mais comigo, com a velocidade do pensar, a muita ou pouca não interessa, permite-me ser eu numa forma mais adequada á minha pretensa escrita, que transmita algo, ou não, serve como acto de expiação.

Um conselho expiem……

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O avesso

                                                        (foto da autoria de Liz)

Despojado de uma ideia de mim procuro-me, tento descobrir uma imagem reflectida de mim…para me encontrar,….naquele espelho ali, serei eu ?
Não me reconheço…quem é aquele cuja imagem nada me diz…nunca o vi…desgraçadamente nem ideia de mim tenho….já não sou aquele, ou qualquer outro.
Se fizer de conta que não me procuro, será que apareço?
Se me procurar atentamente, será que me vejo algures?
Nesta tentativa de um encontro comigo mesmo, encontrei um avesso do que sou.
Coloco as palavras na pilha, jogo com elas ….atiro-as para todos os lados.
Na busca de algum sentido as palavras voltam trazidas pelos ventos….fico cheio delas sem destino para lhes dar.
Não me encontro,
Tenho um avesso,
Um monte de palavras,
Estranho conjunto que carrego!
Começo a pensar que encontrei alguém… serei eu?
Será que estava aqui ao lado de mim…será que é o meu avesso?
Se virar do avesso este avesso, estarei lá?
Virado para o que dizem ser o lado certo…..assento-me bem!
Sim, mas se me virar do avesso, gosto do que sinto?
Toda a peça tem dois lados…
Afinal tinha um avesso, descoberto por acaso ou no acaso.
Sinto que me encontrei neste avesso……afinal ainda me reconheci… não passei por mim sem me falar, ou saudar.
Despido de mim, dispo o meu avesso…só há sentido na evocação do despir.
Despidos encontramo-nos mais facilmente…arte do não artefacto, exaltação do puro nos impuros.
Avesso fica aqui.... para não me sentir perdido.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Navego nas memórias


Sempre me inspiras porque as memórias não têm tempo

Todo o tempo…é o tempo das memórias

Adormecidas, acordadas, pedras sempre prontas ao arremesso

Não me deixam na penumbra, as memórias sem tempo

Reluz sempre o seu brilho invisível que me ilumina a alma

Sempre naveguei inspirado pelas memórias

Ondas que não me atormentam…inspiraste-me para além de ti

Inspirei-me por ti, já fora da existência dos corpos

Agora as memórias sem tempo

São os meus tempos memoráveis

Já em alto mar, olho a bússola da memória

Empurrada pelo destino a caravela prossegue o rumo

Memória após memória balança

Entre a aspiração e a descoberta dos novos rumos

Só nas memórias sinto que navego sem tempo…..

Nas memórias de ti me descubro...escondido entre as emoções do tempo.

Parto para lado nenhum

Algures nos tempos

Uma noite sem breu

Lua iluminada

Amor sem fim....

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Os nós da vida

A ideia de vida como uma corda, um fio ou até um cordel….. é sedutora.


Parece absurdo ou até pouco sensato, dado que todos os artefactos mencionados parecem ter um fim comum, pegar, prender, agarrar, ligar…enfim uma infinidade de coisas, pois podemos imaginar tudo com um fio, corda ou cordel.

Mas não é essa ideia que seduz…não nada disso, o paralelo com a vida surge quando a ligação não se consegue e de repente damos com nós (aquelas coisas que atam) que não conseguimos desatar….a vida feita como um percurso quase linear enleia-se por vezes em nós…..e em nós!

O grande desafio é quando deparamos com esses nós onde a nossa vida se enleia…e agora como desato este nó? Afastamos assim aquela ideia mais corriqueira de como descalço esta bota ? A bota pode-se assemelhar mais a uma situação de momento , onde a caminhada parou por uns momentos, e é preciso reflectir, mas ela vai prosseguir por aquele mesmo caminho. O nó, não!

No caso do nó deparamo-nos com uma situação mais delicada, se não o desatarmos vamos ter que arranjar uma forma de fazer passar a corda com o nó, coisa que não é fácil, ou então cortamos a corda e fazemos uma nova corda, enxertamos, tal pescadores, os dois pedaços…ou então mais drástico, cortamos junto ao nó….e prosseguimos só com o resto da corda, aquela que estava para lá do nó, a que seguiria após este.

Alegoria simples, não é nada fácil de resolver, os nós por vezes são verdadeiras epopeias, não semelhantes ao Lusíadas ou á Ilíada de Homero, mas enfim na nossa vida, em nós, estes nós tem um peso superior ao das obras descritas……verdadeiros cabos das tormentas para se resolver. Um nó, dois ou três na corda da vida de alguém, pode ser uma tarefa árdua de resolver. E quando não os desatamos, corremos o risco de neles nos enlearmos.

Mas uma corda sem nós , será corda? Para que servia a mesma se não lhe déssemos nós….assim a vida sem nós , seria como uma corda sem utilidade….lisa , bonita…..mas sem interesse. A grande capacidade da vida é dar nós..e nós sabermos desatá-los, essa é a tarefa que nos dará a mestria necessária para , tal como os grandes navegadores, passar as tormentas e prosseguir…só se é grande quando se tem a capacidade de depois de cair, levantar-se e prosseguir o caminho, quem nunca caiu ou desatou um nó na vida….simplesmente não viveu!


Foto de Milena Ladeira em olhares.aieou.pt

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010


Mergulho ao meu interior

        Quando começa um novo ano, temos tendência a fazer balanços do que passou e a traçar objectivos para aquele que começa..neste exercício surgiu-me esta ideia, mais que um balanço ou um objectivo….olhei para mim..parado sobre mim mesmo.


     Já altas horas da madrugada, aconchegado no manto torpe da saudade, deito a cabeça na almofada das minhas memórias….vagueio ao som dos Massive Attack, este som pendular, num vai e vem constante, melódico que me faz pairar no ar.

  As metáforas fogem, só Neruda as colocou no seu carteiro… olho-me….tento ver-me fundo…..quero fazer a viagem ao meu interior…àquele interior que dizem que temos , o profundo..onde a nossa consciência não chega, onde se alojam os sonhos, os sonhos que Freud descobriu e revelou que temos que ir bem fundo para os encontrar…..ficam presos algures à espera que os rebusquemos , mesmo que num antagonismo claro, pretendo que eles se revelem perante mim….tenham eles a coragem de me confrontar e farei deles o estandarte da minha própria descoberta…agora aqui no momento de hastear a minha glória da viagem interna, descubro que passo por vários andares onde nunca me descobri…..

      Afinal somos muitos num só, somos todos aqueles que passámos por várias situações onde nem sequer quisemos guardar registo…mas afinal ele ficou guardado ..caiu para dentro de nós….. nunca me dei conta de tantos subconscientes, não é um , nem dois…são todos os que me pesam na memória e na falta dela…todos eles agora descobertos enchem a verdadeira natureza do meu eu…..mais fundo que alguma vez fui…mergulho em mim ,vou descobrindo outras formas de mim..como estive em outros lugares onde não fui consciente.

        O tempo passa num ritmo lento …soa a música..longe, olho para fora de mim…volto ao meu interior..quero mergulhar nas minhas sombras…afogar-me em mim..só em mim!