quinta-feira, 10 de março de 2011

Causas





Saindo a porta,

Virando as costas,

Vultos invadem a penumbra da noite.

O escuro invade o espaço…

Estranha sinfonia que soa na noite,

Espaço do desespero dos foliões…

Dos que procuram a própria procura,

Dos desesperados…

Tempo sem tempo,

Trazido pelos ventos,

Encontram-se os estranhos…

Destapam-se os romances numa qualquer procura,

Reencontram-se os caminhos outrora perdidos…

Afinal voltamos sempre ao mesmo sítio,

A procura nunca é, em vão…

Os sonhos ganham a dimensão da nossa vida

Nunca são demasiados grandes para neles caberem todas as nossas fantasias

Estranho desígnio quando no ser não cabem os sonhos

Tudo se apaga no renascer,

E preciso cumprir os sonhos…

E preciso cumprir a vida, reescrever uma qualquer história,

E todas as formas intactas do desespero ganham contornos,

Tudo se uniformiza na selecção dos poetas,

Afinal a historia parece já contada vezes sem conta…

Mas o fascínio continua intacto,

Quando descubro a saída do labirinto…

Tenho que descarregar o peso do meu desespero…

Emanam gritos, para soarem aos ouvidos dos que não são poetas.

Caminho entre palavras surdas ao apelo,

Cavalgo nos poemas, sulcando os caminhos destinados,

A mim, a todos!



sábado, 25 de dezembro de 2010

Asas por desejo

 



Fecharam-se as cortinas de um palco improvisado,
Ao longe a trapezista de Wender balouça…
Ouço o vento partir…
Chega uma angústia que não me cumprimenta,
Desejava ter asas…por desejo as asas…
 Ou então, bênção suprema, voar sem asas,
Sem me balançar num trapézio…
Sem ser anjo, fazer um voo rasante que passe junto ao humano…
Acto primoroso, na noite que não é longa… danço no corpo,
De uma bailarina carinhosa, que me aconchega…
Numa luminosa sala de néon, deita-me sobre o tapete rolante
Caio por entre plumas, sou mágico neste palco…
Puxa-me por caridade…sente-me por desejo,
Neste balançar perde-se o corpo por entre a alma generosa…
Já é dia nesta paragem, a noite sem ser longa já passou…
Vou agora á procura do destino que me calhou,
Entre rostos que se procuram, entre caretas e carantonhas,
Tento descobrir onde está o avental dos desprotegidos
Cai um homem á minha frente…por pressa caiu,
Por pressa é deixado no chão…
Ouço uma armadura rolar á minha frente,
O anjo criado por Wender atirou-me a salvação…
Será que volto á eternidade,
E me apaixono ainda por esta trapezista que se balouça,
Neste trapézio dourado e abordoado…
Agora com a armadura, tenho a consciência em mim
Sim gosto da trapezista, miro-a através da beleza dela…
Ouço os cânticos angelicais de tão esbelta figura…
Cheguei finalmente ao lugar dos desprotegidos,
Ao jardim do éden…
Agora sim, posso descansar em paz.


Nuvens





A lua rasga as nuvens,
Sem se exaurir olha-me impávida e serena…
De repente o brilho incide num espelho de água.
Acto mágico surge o reflexo que me encandeia…
Por entre o tempo que passa e aquele que não passa, esconde-se,
Ali sem tempo, permanece imóvel…
Removendo as nuvens, surge a espaços…
Escondida, exposta…absoluta na sua generosidade…
Domina todo o céu…as nuvens rasgadas pelo seu brilho,
Desfilam assustadas como se fugissem,
Das intempéries de Neptuno…
Tranquilo, miro-a por todo o seu esplendor,
Desejo fazer-me astronauta e nela encontrar um lugar…
Sem gravidade por lá ficar…sem receio que me afaste,
No seu colo acolher-me…
Sinto a lua a beijar-me o rosto com a sua luz,
Entre mim e a lua há um pacto,
Ela transmite-me a luz…eu acarinho-a…

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O INGÉNUO


Vindo de longe um homem aspira ao paraíso…

Pretensão maior de alma penada.

Na vida imposta, como o peso do condenado,

Sugam-lhe o tempo, vendem-lhe uma alma.

Ingénuo veste-se de gala,

Desagua o suor na terra…

Cruzado sem espada,

Defende o universo indefinido.

Crente… até o impossível dá como adquirido…

Caído em desgraça, caminha com todos os pecados,

Peso maior para tão pouco arcabouço.

Lambe o chão sujo de água e sangue,

Das mãos lavadas por Pilatos…

Pobre desgraçado, enganado e abandonado,

Encontrou o caminho do inferno…

Habeas Corpus


Sentindo que o cobertor cobria a pureza do acto


Era no acalorado bailado corporal que procuravas

A essência das essências …

A noite cobre o horizonte, ao longe e tão perto a lua,

Espreita envergonhada….

Na arriba, no mar …os passos dados até ali chegar…

Agora tudo está perto…até o teu corpo me cobre.

Nasce o sol por entre arribas, entram os raios por nós…

Exaltas a natureza humana…exultamos no recanto escolhido,

Por entre mantas, cobertores…nós…sempre nós,

Neste recanto escondido, desabam almofadas no emaranhado de peles,

Não escolhemos, desejámos apenas…os corpos.

Reféns de nós… tentamos a liberdade não desejada,

Habeas corpus…

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Beija o beijo!

Os lábios, aproximaram-se da face rubra...perguntaram, dança...a boca aproximou-se timidamente, no outro lado os lábios aveludados impregnados de vontade incontida dirigiram-se também eles á face .
Iniciou-se um bailado de beijos ao som das ondas que vinham de um mar mais agitado que o costume…no salão da face completavam-se beijos de bocas de veludo, numa dança de vontades, a pele ocupava um espaço por entre lábios…escorregam as faces agora num passo mais vigoroso…de tanto vigor na ternura se desfaz e se faz, por encanto, um bailado de afectos…premonição de algo maior entre bailados encontram-se as bocas…tudo se desmorona por entre emoções e sensações não convidadas para um baile, quase de gala, composto por ósculos que de ternura e afectos se fazem…transforma-se a sala das faces numa dança de beijos agora com as bocas coladas num dançar lento, infindável cuja música ecoa para além de qualquer som que se pudesse ouvir na cúmplice permanência
Sem tempo e em todo o espaço se cumpriu a dança…prossegue o andamento… na dúvida segue-se mais uma dança de beijos…agora mais soltas as faces , os lábios de veludo e cetim escorregam pela face…até sentir o corpo…agora os corpos transformados em face prolongada só param perante o êxtase do momento…após o sol, a lua… até á aurora continuou o bailado, dançamos…perguntou…sim, porque não , respondeu de forma doce com a ternura das faces.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Occasus




No crepúsculo, no lusco- fusco,
Na imensidão do ocaso…
O mar permanece impenetrável.
Submergia nas suas águas o sol que se punha…
Cobria-se de uma cor escura,
Brilhavam por entre as suas ondas raios de luz…
A lua invadia agora o espaço onde o sol tinha sido rei e senhor,
No eliciar anunciado, dava-se a transmutação…
O que parecia antagónico,
Era a mais perfeita das fusões…
Ciclo eterno de vida, representa a regeneração…
Aproxima-se a aurora, agora o espaço é do sol,
Completa-se o ciclo…
Nunca se desencontram,
Estão ambos sempre em harmonia…
Só o sol e lua se completam no acaso, no ocassus !