sábado, 25 de dezembro de 2010

Asas por desejo

 



Fecharam-se as cortinas de um palco improvisado,
Ao longe a trapezista de Wender balouça…
Ouço o vento partir…
Chega uma angústia que não me cumprimenta,
Desejava ter asas…por desejo as asas…
 Ou então, bênção suprema, voar sem asas,
Sem me balançar num trapézio…
Sem ser anjo, fazer um voo rasante que passe junto ao humano…
Acto primoroso, na noite que não é longa… danço no corpo,
De uma bailarina carinhosa, que me aconchega…
Numa luminosa sala de néon, deita-me sobre o tapete rolante
Caio por entre plumas, sou mágico neste palco…
Puxa-me por caridade…sente-me por desejo,
Neste balançar perde-se o corpo por entre a alma generosa…
Já é dia nesta paragem, a noite sem ser longa já passou…
Vou agora á procura do destino que me calhou,
Entre rostos que se procuram, entre caretas e carantonhas,
Tento descobrir onde está o avental dos desprotegidos
Cai um homem á minha frente…por pressa caiu,
Por pressa é deixado no chão…
Ouço uma armadura rolar á minha frente,
O anjo criado por Wender atirou-me a salvação…
Será que volto á eternidade,
E me apaixono ainda por esta trapezista que se balouça,
Neste trapézio dourado e abordoado…
Agora com a armadura, tenho a consciência em mim
Sim gosto da trapezista, miro-a através da beleza dela…
Ouço os cânticos angelicais de tão esbelta figura…
Cheguei finalmente ao lugar dos desprotegidos,
Ao jardim do éden…
Agora sim, posso descansar em paz.


Nuvens





A lua rasga as nuvens,
Sem se exaurir olha-me impávida e serena…
De repente o brilho incide num espelho de água.
Acto mágico surge o reflexo que me encandeia…
Por entre o tempo que passa e aquele que não passa, esconde-se,
Ali sem tempo, permanece imóvel…
Removendo as nuvens, surge a espaços…
Escondida, exposta…absoluta na sua generosidade…
Domina todo o céu…as nuvens rasgadas pelo seu brilho,
Desfilam assustadas como se fugissem,
Das intempéries de Neptuno…
Tranquilo, miro-a por todo o seu esplendor,
Desejo fazer-me astronauta e nela encontrar um lugar…
Sem gravidade por lá ficar…sem receio que me afaste,
No seu colo acolher-me…
Sinto a lua a beijar-me o rosto com a sua luz,
Entre mim e a lua há um pacto,
Ela transmite-me a luz…eu acarinho-a…