quinta-feira, 1 de abril de 2010

Lugar precisa-se...



Lugar precisa-se…para albergar e entender… receber esta sensação…

Esta angústia de uma descoberta que não se reencontra…

Precisa-se de lugar…lugar tempo, lugar espaço…precisa-se!

Precisa-se de um lugar para assentar…assentar esta espécie de solidão…sem estar só!

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Escriba

         Não sou de fazer balanços de vida, não gosto, nunca gostei. Para mim a vida é um processo dinâmico feito na própria vida, nas vivências que tenho, daqueles que comigo a partilham e comigo remam diariamente este barco que se assemelha, ou se pode traduzir, numa imagem de uma viagem, num espaço cujo tamanho não se vê, mas está lá, temos disso a intuição, como diria o outro manifesta-se, não é explicável. Alguém escreveu que, com ele” caminham todos os mortos da minha vida ”, comigo não…nunca caminhei com os mortos, sempre caminhei com os vivos, e mesmo aqueles que ficaram no caminho, o qual não retrocede, caminham ao meu lado, mas vivos!
         Só guardo memórias vivas, não gosto de memórias que não são palpáveis ou que apenas nos servem para fazer crer que a vida é uma espécie de fardo. Dizem os entendidos que elas estão lá, mas fazemos uma espécie de negação, assustam-nos dizem! Não creio que seja o meu caso, pois elas estarão arrumadas algures. Não as nego, apenas exalto as vivas, num processo cujo esforço é neutro, ou seja, apenas penso e surge o que me parece ser a vida! Bom mas se faço negação não sei, quem é especialista deve ter disso uma ideia mais assertiva, mas concerteza não tem a minha ideia intuitiva, essa meus amigos é pessoal, subjectiva, minha!
         Andava a pensar no que poderia ainda fazer, o que já fiz…e não consigo compactar nada…nem uma espécie de come depressa (fastfood á americana)…nada me surge. Escrever sobre o quê? Sobre quem?        
         Existem sempre razões para escrevermos sobre alguma coisa ou sobre alguém, ou até nós próprios…mas para tal precisamos de imaginação objectiva, ou então romanceamos algo e aí parece pretensiosismo pensar que posso escrever como um escritor…costumo apelidar-me de escriba, aquele que escreve.
      Lembro-me de ainda criança ler e escrever cartas para a minha avó e para uma vizinha dela que infelizmente, nos tempos idos, não frequentaram a escola - tinham qualquer uma um imenso desgosto por tal - que por motivos políticos no nosso País era vulgar, País este que acordou tarde para a necessidade da instrução, ainda hoje cambaleia, não entende o real valor da mesma…encosta-se ao espertalhão e pensa que assim vai longe…pela amostra parece que de longe só fomos há cinco séculos atrás…e parámos por ali, ou, pelo menos, acabaram-se as exaltações dos feitos!
       Quando lia a correspondência da minha avó ou escrevia uma carta a pedido dela, ainda me lembro como começava o primeiro parágrafo “Como vais…espero que esta carta te vá encontrar bem, e como acabava “nós por cá vamos todos bem..” . De facto o tempo que decorria, por vezes, da altura em que a carta era escrita até chegar ao destinatário era o suficiente para se passarem muitas coisas que poderiam alterar todo aquele estado de coisas, “o estar bem”, pois decorriam vários dias, não havia o registo a carta era simples, sujeita a depósitos, a passar por vários locais e ainda dependente da boa vontade de quem a entregava, se calhasse a passar por lá nesse dia ficava, se não…ficava quando calhasse.
        Receber uma carta era uma alegria indescritível, hoje para as gerações dos sms e mails será algo de incompreensível, o poder de um envelope fechado, onde vinha a mensagem que se desconhecia totalmente o conteúdo, até podiam ser más noticias (hoje diz-se que ás más noticias chegam mais depressa, naquele tempo, quer fossem boas ou más, demoravam o mesmo)…. mas ler e reler, guardar as cartas…este ritual era soberbo.
      Era um mundo a um ritmo diferente…por vezes apetece-me voltar atrás no tempo…só para ter tempo!