domingo, 15 de agosto de 2010

CLICHÉ A RETALHO

Por vezes ouvimos a expressão cliché ou, mais á Portuguesa, lugar comum.

Começa a ser moda acusar os outros disso, mas constato que com alguma razão.
Veja-se nas ditas redes sociais que estão cheias de clichés ou de lugares comuns e as pessoas, quase todas, não se coíbem de recorrer a eles para abrilhantarem a sua página.

Numa perspectiva mais distante ou equidistante, damos uma vista de olhos e veja-se títulos sugestivos como; a frase Nicola, Citador o seu karma, ou até frases atribuídas a Gandhi ou outra personalidade conhecidas, dizendo, fulano tal leu hoje a sua frase de fulano tal.

Onde estamos a chegar? Á sociedade dos retalhos, ou sociedade retalhada.

Muitas das frases fora do contexto em que foram ditas, pouco sentido fazem, mas parece que têm uma espécie de aura reveladora do tipo, quem anda á chuva molha-se! Bom esta frase que, enfim, de profundidade tem aquela que a chuva lhe der, pois é utilizada como metáfora, poderia ser dita de outra forma, por exemplo deste género, quem levar com uma bigorna no crânio parte a cabeça (isto se não morrer, possibilidade que é grande).

Naqueles rasgos atribuídos a escritores, pensadores ou personalidades mais ou menos VIP ( em português, vipes), encontramos excertos que são verdadeiras pérolas quando colocadas num contexto pouco usual.

Quantas pessoas entenderão a profundidade de uma frase que é utilizada como arma de arremesso á menor das contrariedades que o nosso saber tenha, "só sei que nada sei..". Será que faz sentido esta frase em qualquer contexto, retalho de um pensamento maior, compreenderão muitos daqueles que a dizem a sua verdadeira dimensão? Não, não compreendem...e porquê?

Porque esta cultura enlatada a retalho não lhes explica que uma frase daquelas vai para além do entendimento comum. Ou seja o fenómeno cliché é uma espécie de cultura vendida ao retalho...tal como se retalha uma peça de carne para se vender aos poucos, esta cultura do cliché, não é uma peça, é uma parte dela onde o todo só é alcançado por alguns.

Na senda do rumo para acesso ao saber por parte de todos, o que se fez foi desprimorar esse saber, atirando-o em pedaços a uma espécie de animais famintos que devoram todos os pedaços sem saber que existe um todo e do qual só comem uma pequena parte que lhes vai ilusoriamente criar a ideia de ficarem saciados…ou se calhar ficam, porque me preocupo com isso, possivelmente só sei que nada sei!